sexta-feira, 18 de setembro de 2015



                                                 

                                 Sagas do Clã Tawk



         Traduzidas pelo Sr. Mansur Tanus Lahud Tawk, de Teresópolis, RJ


                     I - História do Clã Tawk

            Clã é um vocábulo que se refere mais a gerações de famílias escocesas, irlandesas ou inglesas; em árabe o termo é Bait-Tawk. E Tawk, não sendo escrito em árabe varia em grafia dependendo da língua em que for escrito, como, por exemplo: Tawk, Taouk, Tauk, ou mesmo Táu.

      Retificações de Chefes e Certificação da História

      1 - Leitura de alguns idosos e descrição dos assuntos do Clã.
            O principal tronco ancestral veio de uma cidade chamada Tawkat na Anatólia, Ásia menor, segundo a primeira versão. Outros dizem que foi de uma península do Oriente Médio. 
            Esta história sem confirmação de origem, tomada apenas, pela semelhança dos vocábulos Tawk e Tawkat, não pode ser verdadeira, porque na região, e nem mesmo na Turquia atual, há qualquer cidade com este nome. O mais certo é que estes lugares, por ignorância ou por simples entusiasmos acidentais, tenham feito confusão de península da região com península arábica, onde vivia a Tribo Cabila Beni Taglâb, da qual se separou a Cabila Ben Tawk. 
       2 - Na Península Arábica existe um histórico que condiz com o acima mencionado, esclarecendo que o nome do primeiro ancestral do Clã Tawk era Melek Ben Tawk, que foi um príncipe entre os nobres de Monte Tawkat na Turquia e, que durante o sultanato de Salim I, Otomano, recusou-se a pagar tributos pesados contra ele, surgindo daí uma escaramuça entre ele e os exploradores. Por esse motivo matou um deles em luta violenta e fugiu com três irmãos, o primeiro viveu na região de Huram, no Líbano, o segundo foi para Âkar, dali foram para Aithu donde, após pouco tempo, chegaram a Bacharre. Mussi se casara com uma moça da família Chalãia, e Melek, com uma moça da família Assila.
            O outro histórico, com erros, diz:
          a} Que Melek Bem Tawk foi um príncipe árabe, na dinastia do Califa Harum al Rashid no século II D.C., conforme foi dito antes, e não na época do Sultão Salim I, que teve início no século XVI D.C.
           b} o vocábulo Amir não é usado na Armênia nem na Turquia, como então se ligou ao nome de Melek?
             c} Se a migração de Melek Tawk e seus três irmãos saiu do Sul da cidade de Shãm {Damasco} na época dos Mamelucos, como já falamos, na segunda metade do século XV, fica demonstrado que se afastou das ligações administrativas, políticas e, até mesmo, da literatura. Nota-se aí que essas migrações foram mais de caráter social e não individual, e por diversas localidades entre Homs e Kb'áit.
            d} Existe aí uma confusão óbvia entre a migração de Melek e seus irmãos, Mussi e Merãab no ano de 1584 da Vila Kb'áit para Aithu; pois Melek, Mussi e Merãab não chegaram a Becharre. Melek foi para Janin com o filho Canaan; Merãab foi assassinado, enquanto o destino de Mussa é ignorado sem nenhum esclarecimento a respeito. Como então, Melek e Mussi chegaram a Becharre e ali se casaram? O certo é que, quem chegou e habitou em Becharre foi o filho de Melek, e quem se casou na família Assila foi Hanna, filho de Tawk e neto de Melek, conominado al'Cadi. 
       3 - Em uma outra história, dizem que o ancestral de família, Bait-Tawk, vivia na Anatólia, Turquia, numa cidade chamada Tawkat, donde emigrou em 1630, fugindo, da perseguição do Sultão, para a Syria, mas não encontrando segurança aí, seguiu viagem até a Vila de Rahba, em Akar, onde passou sete anos; dali foi para a Vila de Kb'áit, dali então é que foi para Becharre com dois filhos, um chamado Hanna e conominado al'Cadi, o outro, Merãab. Depois que chegou a Becharre em 1642, teve mais dois filhos, José e Gostin. Porém é certo que os autores desta versão basearam-se nas duas versões anteriores e não se preocuparam com as falhas e erros e nem com a correção necessária da nova versão, quanto as memórias de um Clã e, também, com pontos históricos cheios de erros e enganos. 
            a} Quem emigrou de Kb'áit foi Melek Tawk e seus irmãos, Mussa e Merãab, mas o  que saiu de Aithu para Becharre foi Tawk filho de Melek com três filhos, Youssef, Mussa e Hanna, cognominado al'Cadi, com sinal de que teve boa acolhida na cidade. Goustin era filho de Lahud e neto de Tawk e não filho de Melek Tawk. E Youssef que é dito ter nascido em Becharre com a crença de que é um tronco da família; não é filho de Melek Tawk e nem de Tawk, filho de Melek Tawk, mas é filho de Tawk, filho de Youssef, filho de Tawk, que nasceu em Becharre, tornando-se evidente ser o verdadeiro tronco principal da genealogia do Clã Tawk {Bait-Tawk} em seu conjunto.
            b} Torna-se claro nesta história que o Clã Tawk compõe-se de 4 divisões: Hanna [al'Cadi], Merãab, Youssef e Goustin. Em verdade são os ramos Hanna [al'Cadi], que ficou conhecido como [Antonius Bu Sherrin], Youssef Al'Firz, Gerges al'Lakiss e Youssef, que ficou conhecido por Lahud Merãab Tawk;
            c} Merãab Tawk emigrou de Kb'áit com seu irmão, já era casado e tinha 2 filhos: Canãan e Tawk. 
            Aqui apaga-se a hipótese da vinda de Melek Tawk da cidade de Tawkat e cresce, sem nenhuma dúvida, em sua mudança da Syria para Rahba, em seguida para Kb'áit e, finalmente, Becharre, confirmado com um número 7, símbolo conhecido. 
       4 - Alguns históricos relatam que, como está escrito, houve diversos ramos destacados de Bait-Tawk em Becharre para varias localidades distantes e, dessas divisões, há uma de Homs, na Syria, conhecida com o nome de Tawk, e uma outra na cidade de Rahba, em território Sírio, próximo de Hirmel, no Líbano, conhecida por família Rihal Tawk, tendo como tronco principal Ebrahim Tawk, que emigrou do lugarejo Bezbina, em Ãkar, em meados do século XVI. 
            Anotemos os erros:
            a} A família Tawk, em Homs, não saiu de Becharre, mas de Rahba, ao Sul da cidade de Damasco; procuraram Homs na ocasião em que seus parentes chegaram à Kb'áit, no Líbano. 
            b} Não existe em toda a família Tawk alguém que se chame Ebrahim, não existiu em nenhum tempo passado. Portanto o que foi para Rahba deve ter sido Rihal Ben Abud Ben Merãb Ben Youssef Ben Tawk; Também não é um ramo da família como mostra a Árvore genealógica. 
            c} Rihal, como está claro, saiu de Becharre e não de Bazbina; pois o relato não coincide em nenhum caso com o território, nem com o tempo mencionado na História. 
       5 - Conforme a narração de certos trechos, a chegada da família Tawk a Becharre, e os seus primeiros ancestrais, tem ligação com o comércio de artigos de cobres, muito procurado pelos habitantes da Vila. Este comércio era uma profissão perigosa. Muitas das pessoas de Bait-Tawk trabalhavam também com fabricação de espadas, escudos e demais artigos de cobre quando ainda estavam no sul de Damasco. Eles escolheram esta ocupação quando foram para Kb'áit, mas nada com a arte de esmaltar objetos. 
       6 - Em outros textos dizem que Bait-Tawk chegou a Ãkar e se estabeleceu na Vila Rahba onde abriu negócio e aí ficou até mudar para Becharre. 
            Importante neste texto é que Rahba existia antes da chegada da família á Ãkar; o que indica esta condição são as muitas notas históricas. Se esse fato é verdadeiro, quanto à ligação da família Tawk com Rahba, confirma a construção das duas vilas já mencionadas antes, pois existem sinais que confirmam este fato, como uma caverna até hoje com o nome Tawk, tal qual as que existem em Kb'áit. É importante lembrar que os habitantes de Rahba conservam o nome Tawk até hoje porque ficaram ali por muito tempo; ademais o vocábulo Rahba significa na língua local: terra ampla e fértil; pela redondeza existem muitos lugares com este nome [Rahba Bait-Tawk], em uma área de 6 milhas. Uma em Bagdad com o nome de Rahba Sukut, criada por Jacob, filho de David, segundo Mussa Ben Salim, Vizir do Califa al'Mârdi, e ainda, Rahba Bab al'Abd, no Egito.

                   II - Coletâneas:

            O início de governo da tribo Hamade na montanha de Becharre, com preferência em Diman, quando o grande Mohamed Bacha foi nomeado governador de Tripolis em 1654, Ahamad Hamad Bem Kansur, conhecido por Xeique Zazua, que dominava toda a região e com violência, mas foi deposto pelo administrador Murad Abi al'Lami em 1755, depois foi sucedido pelo filho Feres. Em 1659 o domínio passou às mãos de Ali al'Shair, que fez um governo proveitoso, mas perdeu-o para Hussa Bacha, governador de Tripolis em 1674 depois passando às mãos de Amin Sara Ebrahim Aga, seguindo, por turno, para o domínio da dinastia de Abi Caram, de Ehden e Abi Chadid Gassibe Kairuz de Becharre para a cobrança de supostos impostos. 
            Em 1677 tornou a governar em Tripolis Mohamad Bacha, voltou então a tribo Mohamad com desmando na montanha, principalmente em Jabail, Batrun e Becharre, quando, então, Hussan Ahmad Hamade começou a fazer opressão em Becharre, deste modo deu largas a todo tipo de exploração, abuso e aumento absurdo de impostos, época em que o povo passou necessidade e mau trato, preferindo o abandono do lugar e imigração para Kasruan e Ilha de Chipre. O Patriarca Estefan al' Duairri  chegou a alcançar essa opressão com grande abuso de poder no período [1670-1704], quando, também, abandonou sua sede de veraneio em Nossa Senhora de Kanubin em 1683 e passou 2 anos numa vila, Majd'al'Mãush, em Kasruan e não voltou para Kanubin senão quando o povo do Jabal [Montanha], por intermédio do Emir Ahmad, conseguiu erradicar o mando da tribo Hamade, e ficar com seu rebanho livre de toda opressão. 
            No ano de 1692 Ali Bacha al'Lakiss foi nomeado governador de Tripolis, o povo do Jabal leva-lhe então uma queixa sobre o desmando e abuso da tribo Hamade, que abrangia não somente ao povo civil, mas também o religioso, a um ponto insuportável. A esta altura, o governador veio a pedido do povo e desbancou a tribo Hamade, nomeando em seu lugar Mihkael Nakhlus de Ehden, que ficou no período de 1692 a 1701. Em 1693 Arslan Bacha al'Mutarji sucedeu Ali Bacha al'Lakiss no governo de Tripolis e, com o seu cunhado, quis combater a tribo Hamade, dando apoio a Mikhael Nakhlus. Com isso a tribo Hamade começou a cair, sendo subjugada no domínio de Aben al'Chucrani, trazendo paz e prosperidade para o Jabal, que durou 9 anos com abundância e liberdade, recebendo, ele, loas e elogios em versos. 
            Com a morte de Mikhael Nakhlus, o Jabal voltou ao desmando dos Hamade, mas o povo conseguiu derrubar o seu domínio em 1771, mesmo porque havia muitas disputas entre seus próprios chefes, e questionamento dos executivos por vezes. Em seu domínio houve pobreza e todo tipo de infortúnio e miséria, justamente com a descrença no convênio entre os governantes e os habitantes do Jabal, acabando por ser desfeito em 1654. O Cadi [Juiz] obstruiu todo tipo de entendimento concernente a religião, honra e raça.

              III - Saga de Abi Dorrer al'Firz Tawk

            Abi Dorrer vivia no ambiente e na influência dessa História com seus irmãos e primos. 
            Era famoso em valentia e generosidade, também destro em ataque e defesa, nos casos de brigas e desavenças, que a História relata e os livros conservam, especialmente em um dos casos, muito divulgado e conhecido, com a denominação de "Amoreira do Sangue":
            Na Primavera de 1758, um rapaz de parentesco dos Hamade atreveu-se a raptar, com alguns amigos, uma moça muito bonita entre as donzelas de Becharre, aproveitando-se do momento em que todos da família e demais vizinhos estavam assistindo missa na Igreja de São Seba, a jovem assim que percebeu o seu intento, sendo agarrada, começou a gritar por socorro. Alguns homens que estavam ali por perto pegaram-no enquanto os outros fugiam, arrastaram-no até uma amoreira perto da Igreja e ali o degolaram, motivo pelo qual a amoreira recebeu o nome, conhecido até hoje. 
            O povo de Becharre aproveitando-se deste caso, que trouxe uma grande preocupação pela honra das jovens e o abuso para com os habitantes da cidade por parte da tribo Hamade, formou, então, um grupo de combatentes sob o comando de Al'Firz, o grupo precipitou-se sobre a tribo, conhecida também pelo nome de M'teule, tribo Xiita, e expulsou-a da região com o chefe e todos os homens e suas famílias. Preocupados com uma retaliação por parte desses M'teule; os becharrânes se reuniram para estudar um meio de evitar um ataque à cidade. Chegaram à conclusão que o mais prático seria alagar as entradas da cidade. Soltaram a água nas partes mais vulneráveis para formar atoleiros o que se formou numa grande extensão. Após dez dias uma grande cavalgada dos M'teule, vindo do lado de Al'bokã, através de Al'chanuk, e outra, com numerosos cavaleiros, vindo de Hasrun e Bkarkacha, os atoleiros já eram extensos em Kãneita e Chehaia. Os Becharrânes estavam por perto à espera do ataque. Logo que os atacantes chegaram ao campo de batalha seus cavalos se afundaram no lamaçal com os cavaleiros; aí os defensores precipitaram-se sobre eles a golpes de espadas em seus pescoços; deixando um terrível medo em seus corações; obrigando-os a sair em debandada, deixando atrás uma grande baixa. É digno de menção que no meio da batalha um dos cavaleiros saltou de seu cavalo e precipitou-se sobre Al'Firz, pronto para matá-lo, iniciando-se entre eles uma luta ferrenha com vantagem para Al'Firz, que jogando o adversário ao chão ficou com a espada no peito dele pronto a liquidá-lo. Nesse momento um jovem da turma grita, dizendo:
            "Por piedade Al'Firz e pela Virgem Maria e tua própria honra, afaste a espada do peito deste filho único, perdoando-o terás de seu pai um grande respeito se ele voltar com vida para casa, imediatamente Al'Firz levanta a espada e deixa o jovem livre. Al'Firz, dirigindo-se ao jovem, bradou: "Quem sois e quem vos mandou para nos matar em nossa cidade"? O jovem respondeu, dizendo quem era, e pedindo perdão. Então, Al'Firz ordenou-o que fosse embora com este recado: "Diga ao teu pai, que nós os becharranis não somos contra os M'teules honrados e não há ódio em nossos corações contra eles, mas eles querem nos humilhar, e nos saquear; por isso os repelimos; diga-lhe, ainda mais, que os maronitas de Becharre, são amigos da paz. Que venham, os que querem nos governar, e serem nossos vizinhos; mas que tragam nos corações a honra e a tolerância à religião. O jovem retirou-se, e ao chegar em casa narrou tudo que acontecera ao pai, o qual guardou grande respeito por Abi Dorrer AL'Firz Tawk, deixando uma porta aberta para futuras amizades, ainda enviou-lhe um lindo lenço de seda para pescoço. Depois procurou o governador de Tripolis na intenção de arranjar uma nomeação para Prefeitura de Becharre. 
            Isso fora uma grande vantagem, pois levou a tribo Hamede a uma boa posição apesar do seu desmando anterior que deixara os habitantes da cidade em um estado de pobreza e opressões inconcebíveis; ocasião em que, o povo procurou o governador de Tripolis e apresentou-lhe uma queixa que resultou na expulsão dos Hamade, deixando o povo livre de opressão e da prepotência. Por este motivo foi convocada uma assembléia no verão de 1759, em Ehden, a pedido dos Xeiques Gerges Bulos Al'Duairri, de Ehden; Hanna Dorrer Kairuz e Issa Al'Huri Rahme, de Becharre; Abu Suleiman Ãuâd, de Hasrun; Abu Youssef Eliôs, Kaferzagale, e Abu Khater Al'Audiak, de Ãnturin. Nessa assembléia os Xeiques chegaram a um consenso com os habitantes da região, para que eles, os Xeiques, passassem a governar no lugar dos Hamede. Deveriam, então, procurar o governador de Trípoli e torná-lo ciente de tudo que fora estabelecido na assembléia; assim foi feito, e o governador determinou três majores para acabarem com os desmandos e substituírem os chefes. Apresentaram-se, então, Bechara Karam, de Ehden; Abu Dorrer Al'Firz Tawk, de Becharre; Abu Eliôs Al'Afret, de Hassrun; Foram a Tripolis para pedir as nomeações necessárias para a região, comprometendo-se a pagar todos os impostos atrasados. No ano de 1760 voltaram a Tripolis para novos acertos. Os Hamade consideraram essa resolução uma ofensa e agressão contra eles, aguardaram uma oportunidade de desfazer esse convênio entre os Xeiques em Becharre, centro policial da região; pois não era de seu agrado. 
            No outono de 1761, ocasião que, grande parte dos habitantes de Becharre desciam para o litoral, como de costume, para a provisão de azeitonas, azeite, e procura de pastagens para os seus rebanhos; e também visitas a parentes e amigos; não ficando na cidade a não ser velhos, mulheres e alguns vigias. 
         Aproveitando-se dessa oportunidade, a tribo Hamade, vindo do Bocã, através de Darrer Al'Kadib, durante a noite, atacaram a cidade antes do romper do dia. Assim que os vigias notaram o movimento, procuraram se defender, dando início a uma desastrosa contenda; mas a quantidade dos assaltantes era tão grande quanto uma ânsia de liquidar os Xeiques valentes do Jabel: Abi Darrer Al'Firz e os seus quatro companheiros da mesma cepa de defensores valorosos: Jabur Assila, Abu Resk Jaaja, Jabur Rahme e Antonios Sukar. Encontraram-no sem armas e completamente indefesos. Mataram-nos traiçoeiramente e entraram na cidade, matando, saqueando, devastando, incendiando e levando os rebanhos; voltaram para casa pelo mesmo caminho que chegaram, carregando todo o roubo. No dizer de um indivíduo de Anturin, ficou claro, que esta traiçoeira matança e roubalheira, deixou o povo completamente desprovido de alimentos e vestimentas devido a um ataque bárbaro e sanguinário, e de traição tão grande porque não tinha nenhum jovem na cidade, ou qualquer homem na condição de defesa, pois conseguiram carregar até o vasilhame das cozinhas. 
            Quanto ao assassinato do grande valente e protetor da cidade, Major Abi Dorrer Al'Firz Tawk, foi de grande lamento e pesar entre homens, mulheres e crianças da cidade, mas ficando eternizado, por sua glória e valentia, nos versos dos poetas, especialmente na "ãtêba" [um tipo de versos], declamados por Suleiman Mikhael Tawk, cujos versos foram conservados por seu filho, o poeta Mikhael Suleiman Bu Nasser. 
            A História continua comentando que, Antonius, conhecido pela alcunha de Abu Sherrin, irmão de Abi Dorrer, o assassinado, reuniu alguns parentes e valentes, que já haviam lutado contra os M'teules ao lado de seu irmão. 
            Foram à perseguição da corja. Entre 1762 e 1763, em uma escaramuça, conseguiram vingar-se, liquidando alguns deles; e ainda em uma outra, em 1770, não só se vingaram de mais alguns, como também, expulsaram definitivamente os Hamades da região. Durante todo esse tempo, e nas diversas batalhas, segundo a narrativa histórica, Abi Sherrin matou 99 dos M'teules, pela vingança do assassinato de seu irmão, recebendo por isso o apelido de "Urso Branco". Para dar um fim a essas matanças sucessivas, o representante do Patriarca mandou chamá-lo [Abi Sherrin] ao palácio de Kanubin, no Patriarcado de Youssef Estefan Al'Gustani [1766-1793], e pediu-lhe que desse fim às vinganças e evitasse, que as labaredas da sedição se espalhasse ainda mais. Abi Sherrin obedeceu ao Bispo, prometendo não mais continuar com a vingança; despediu-se e tomou o caminho de casa. Nesse trajeto, na proximidade de um cemitério, viu um homem praticando necrofilia em uma jovem recém-morta, satisfazendo-se de sua sanha sexual ao lado do jazigo. Esse ato brutal e fantasmagórico mexeu tanto com os sentimentos de Abi Sherrin, que num ímpeto de ódio, puxou da espada e degolou o monstro. 
            Voltou imediatamente ao palácio para confessar ao Bispo, dizendo:
            "Eminência, eu completei os cem". E explicou a loucura súbita do gesto diante da prática horrenda e insuportável do caso, e jurou não usar mais a espada nem qualquer outra arma. O Bispo comentou: Terminou o teu derramamento de sangue. Ó Aba Sherrin, de hoje a diante, vamos te chamar de Cura Antonius. Assim viveu Abu Sherrin até os cem anos com este apelido de padre, sem nunca ter sido ordenado padre. 

IV - A saga do Padre Goustin Ben Lahud Ben Youssef Ben Tawk

            Conta-se que Goustin do Clã Tawk era um homem valente, muito forte e invencível na batalha, tomando parte em muitas em defesa de Bait-Tawk e de Becharre, contra tribo Hamade e outras da região. Ligado a isso, era um homem culto, que lia e escrevia o árabe e o aramaico; ordenou-se padre em algum ano entre [1760-1765] após ter completado 60 anos. Devido a sua vida dura e trabalhosa, para manter a família, recebeu o apelido de "O Batalhador". É digno lembrar que a saída da tribo Hamade de Becharre e de toda a região da redondeza em 1771, tornou-se um acontecimento histórico e de bravura por parte dos habitantes da cidade, que assumiram novamente o governo da prefeitura local. A realização e a vantagem deste fato devem-se aos Xeiques da região, que lutaram para dar fim ao domínio opressivo e de abusos da tribo Hamade; num jogo político e militar sob o comando de Hanna Al'Dorrer Kairuz, falecido em 1785 e Issa Al'Huri Rahme, que faleceu em 1789. 
            Após o entendimento com os dois Xeiques mencionados e todos os Xeiques da região, para dar um término ao domínio dos Hamade, pois o chefe deles voltou ao desmando e abusos, causando complicações internas e briga no comércio, intervindo na Assembléia de Becharre e motivando divisões familiais e encrencas na política.
            Os Xeiques, então, tomaram parte na questão e combinando com ele, dividiram o grupo em dois. O resultado foi o aperto no horizonte de um lado e a impaciência nas conversações improdutivas do outro. 
            Os chefões se libertaram dos Hamade e Becharre se dividiu em duas Delegacias, a do sul sob a chefia de Issa Al'Huri Rahme, e a do norte sob a chefia de Hanna Al'Dorrer Kairuz, mas as famílias se repartiram na preferência de apoio aos dois chefes beligerantes; cada um apoiava este ou aquele, segundo a conveniência das partes. Porém Bait-Tawk, por motivos ignorados na narrativa, não foram mencionados nos livros históricos, o grupo local que apoiava Issa Al'Huri Rahme, chefe da Delegacia do sul, apesar de residir no norte. Esta posição política, sem a importância da geográfica, foi tomada por conveniência de ligação com os Dorrer, os quais apoiaram seus adversários e opressores, impedindo seu progresso político e a expansão de suas lavouras, surgindo daí uma adversidade que prejudicou os pomares e as lavouras, e aconteceu o seguinte:
            Na Primavera de 1775, o padre Goustin com os filhos e primos cultivou suas terras na localidade de Râs'Al'âin, próximo de Zurub Al'Huri Goustin e Al'Daker, que herdaram de Merâb Ben Youssef Ben Tawk. Quando Bait-Tawk tentou puxar água de Mar Semãn para regar a lavoura, o Xeique Hanna Al'Dorrer, com seus homens, impediram-no de fazê-lo, vindo daí uma discussão violenta entre as duas partes, que evoluiu e arvorou-se em pancadarias. O padre Goustin tentou dar fim à desavença por meio de um entendimento, mas não conseguindo apaziguar as partes, porque os outros não obedeciam à sua ordem, o que o preocupava muito por prejudicar, cada vez mais, os seus parentes e com medo de que chegasse ao derramamento de sangue, obrigou então os filhos e parentes a se afastarem do ambiente violento, já que não havia possibilidade de pacificação. Alguns dias depois disso decidiu ir a Istambul, Capital do Império Otomano, onde chegou em Julho do mesmo ano; segundo a narrativa, com sua esperteza e inteligência, conseguiu obter uma audiência com o Sultão Abdo AL'Hamid Aga Khan I, apresentando-lhe a queixa com todos os detalhes, apoiado em sua coragem e determinação. O Sultão correspondeu ao seu pedido, ordenando ao seu secretário, que escrevesse um documento em lingote de cobre, autorizando a posse do local do regato em questão, e que fosse apresentada ao governador de Tripolis para autenticação. Assim foi feito e o padre Goustin voltou para Becharre com o documento, que foi apresentado ao Xeique Hanna Al'Dorrer Kairuz, obrigando-o a aceitar a decisão. O local do regato ficou conhecido pelo nome "Regato do padre Goustin" até hoje. O efeito deste documento tornou-se tão firme e habitual, transparecendo na distribuição da água para irrigação entre as famílias de Becharre, com registro na Prefeitura. De uma outra feita neste caso, quanto ao término da questão, foi a permanência e a significação de Bait-Tawk ficar de um lado e a possibilidade do alargamento de terras para o plantio de outro, no entanto, sabe-se que o autor Padre Goustin Tawk trabalhou pelo alargamento e melhoramento da Igreja da Virgem Maria em Becharre, terminando a construção no ano de 1796, no começo do Patriarcado de Youssef Al'Tien, no período [1796-1820], segundo o histórico, morreu no ano de 1797, daí saber-se que ele ainda vivia em 1782; o que prova o nome de sua viúva no registro de Batismo, no Tomo existente na Igreja da Virgem em Becharre, com um manuscrito, " Eu, padre José, batizei Catarina, filha de Bu Suleiman Tawk, sendo o padrinho Butros Sukar e a madrinha Marta esposa de padre Goustin Tawk, no mês de Março de 1782.

                 V - A Saga de Habib Malkun

            A Liga Al'Messori Al'Cherrâbi terminara em 1840 e o Emir Beshir II foi banido para a Ilha de Malta e o domínio tradicional dos Emires da tribo Beshir passou para mãos de Beshir III [Abu Tahinat], o qual se tornou, indiretamente, componente do domínio Charrâbi, mas se opondo aos que faziam parte nos desmandos e implicações; um charme na dinastia, severo em sua posição, a sombra desses acontecimentos, internos, entraram Embaixadores e Cônsules de potências estrangeiras na política complicada do Monte Líbano. 
         Aproveitando-se dessa situação, cada grupo familial procurou apoio e proteção de algumas dessas nações. Nessa esperança de melhora e segurança, começou a briga entre maronitas e druzos, aqueles perdendo muitas vidas e posições governamentais, causando muitas mudanças e emigrações nas famílias, dificultando o entendimento entre as partes, inclusive entre os próprios cristãos; e ainda, dentro dessa confusão, o desejo ardente das famílias pelo alargamento de suas terras de encontro com a diferença de opiniões. Por ordem dos Koimakimin [delegados] em 1843, estabeleceu-se a diminuição na divisão das famílias e o aprofundamento das migrações, mas a questão emaranhada da política dificultava a regularização. A situação passa a depender das decisões das nações externas, implicada com a defesa e com o objetivo. Complicou-se, também as decisões das nações assistentes pelo Tratado de Paris em 1856. Alguns maronitas, confiantes nas clausulas destacadas nesse trato, que se referia ao sultanato muçulmano na ordem pública, pediram, então, que essa ordem passasse para as mãos dos Xeiques do cristianismo, como aconteceu na ocasião do levante dos lavradores, sob o comando de Tanius Sherrin Tawk no ano de 1858. O que fez os maronitas do Líbano se envolverem em uma escaramuça interna sangrenta,levando o povo a uma sedição calorosa no ano de 1860. 
            Defronte de tudo que acontecia no Shauf e em Kassruan nessa ocasião opressiva na História do Líbano, os habitantes do Norte em geral, e os maronitas em particular, não se davam bem com o Tratado otomano, cujo governo era opressivo, os quais não se apiedavam dos cristãos e nem se importavam com a miséria que afetava o povo no meio do anarquismo. 
            Por outro lado, os cônsules francês e inglês não eram remissos no caso dos maronitas do Norte, que se importavam com o que acontecia aos seus irmãos nas montanhas do Líbano. Quando aconteceu uma briga entre Becharre e Ehden no ano de 1857, o Consulado francês apressou-se em oferecer armas e munições em apoio a Ehden enquanto o da Inglaterra ofereceu apoio e ajuda a Becharre. 
            As duas cidades eram contra o domínio Otomano, portanto tinham a mesma opinião quanto à política externa. O que então as jogava em luta? 
            Porém, com cuidado do povo pela importância da paz de um lado e a intervenção do Partriarca Bulos Massãad do outro [1854-1890], conseguiram chegar a um termo de paz em 1858. 
            A sombra desse anarquismo, e da insegurança religiosa aparecem, em varias localidades, diversos aproveitadores que roubam, saqueiam de um lado e assaltam e matam de outro. Nessa confusão, Ahmad Mohamade estava dominando na de Bkerzala, na região de Akar, adquirira uma ordem dos muçulmanos para cobrar impostos e especular as produções dos lavradores, aproveitando-se do anarquismo reinante no estado e países vizinhos de um lado, e na desordem e no desentendimento social entre as famílias de outro. Durante esse tempo os habitantes de Becharre procuravam o litoral, no sentido de estação de inverno, e também para se abastecerem de provisões e arranjarem pastagem para os seus rebanhos; devido a estas necessidades, Michael Al'Gan Tawk, com seus filhos Tannus, Marun e o resto da família, foi para Tahun Al'Sbãat [um Moinho], que fica no Vale de Macsu na proximidade de Bkerzala, já mencionada. 
            Numa noite de Outubro, sombria e chuvosa, a turma de Ahmad Beik, já comentado, atacou o abrigo, do citado acima, Michael Al'Gan Tawk, no mesmo Moinho, a fim de roubar seu rebanho e saquear seus pertences. Michael com os dois filhos procuraram se defender, conseguindo rechaça-los, com alguns feridos. Desde essa tentativa fracassada, procuravam sempre voltar ao ataque para roubar, saquear, mas também por motivo de vingança a essa família de Becharre: No mês de fevereiro do ano de 1859, [segundo a História, aconteceu na Páscoa]. Durante a noite a turma chegou ao Moinho, decidida a exterminar a família, saquear o que fosse possível, e roubar o rebanho. Como da primeira vez, Michael e os filhos conseguiram se defender, deixando entre os outros alguns mortos e feridos, obrigando-os a fugirem, protegendo-se com a escuridão da noite. Porém, alguns dos assaltantes ficaram escondidos nos recantos e moitas na proximidade do Moinho, com boa miragem para efeito de tocaia. De madrugada, antes do romper do dia, Marun saiu confiante para vistoriar o rebanho, crente que a turma tinha fugido na totalidade, mas logo que começou a acender uma tocha a entrada do estábulo, os tocaieiros saíram das moitas atirando nele pelas costas, deixaram-no morto e fugiram. Os cristãos de Vila Bkerzala, tendo noticias do acontecimento, correram ao local e levaram o corpo de Marun, sepultando-o no cemitério deles sem nenhuma cerimônia religiosa, seguindo costumes de Becharre que proíbe a cerimônia religiosa pelo repouso eterno da vitima antes de se vingar por ele. Sua família juntou todos os seus pertences e reuniu o rebanho, e com a ajuda dos vizinhos, seguiram, em baixo de chuva e do frio intenso, a caminho do Mosteiro Nabuh, próximo da aldeia Al'kholdie, perto de Becharre. 
            A notícia do assassinato de Marun Al'gan chegou a Becharre por intermédio dos cristãos de Akar, que também se interessavam pela criação de uma força pela segurança e sobrevivência cristã na região, assim como pela vingança do cidadão de Becharre, Marun. A situação tornou-se séria e a lei virou anarquismo, deixando o povo viver a custa do que desse e viesse. Os habitantes de Becharre ficaram imaginando um meio de resolver a questão de um lado, e como sair para passar o inverno no litoral do outro; adiaram a saída para a estação da Primavera. No dia 25 do mês de maio do mesmo ano, chegaram a uma conclusão, e juntaram-se para decidir o que tinham combinado sobre a idéia de vingança; nesse ínterim, momento em que, a multidão estava aglomerada na praça principal da cidade, apresenta-se o jovem Habib Malkun Tawk, sem pedir licença, e começou a discursar no meio da multidão, proclamando: "Nós da Família Tawk, não nos separamos das outras famílias em questões como esta, principalmente no Norte do Líbano, que já aconteceu algo semelhante entre os Maronitas e os Druzos nesta Montanha. Não quero dizer que desistamos da vingança pelo assassinato de Marun, conforme já está decidido em Becharre, pelo contrário, mas sim, que eu sozinho poderei realizar esta tarefa, matando Ahmad Mahmud Beik, pois ele é o único responsável pela morte do nosso concidadão, e ainda, pelo abuso e maltrato aos cristãos em geral da região. Se o grupo perder a cabeça, enfraquece a ação deles e cada um fica desorientado: "Não adianta cortar a cauda mas a cabeça da cobra". Ao dizer isso, puxou uma garrucha da cintura e resumiu, dizendo: "Com esta garrucha resolverei a vingança de Becharre em nome de todos vós, e para provar que são todos um só coração na decisão, e uma só mão da responsabilidade do ato, e como prova, cada um pega uma bala e coloca na cartucheira, deste modo estarão tomando parte na vingança, como vocês querem. Todos concordaram e fizeram do modo que ele pedira. Mas queriam que fosse com ele um outro rapaz, corajoso, valente, da mesma cepa, Youssef Beshir Sukar. O povo dispersou-se confiante no que haviam decidido.
            Na noite do dia seguinte, saíram os dois jovens mencionados, acobertados pela escuridão; seguiram o caminho de "Al'Matel", Vila de "Bãazakta", [um arrastão de lenha morro abaixo], ao romper do dia descansaram perto de Ehden, em um monte de nome 'al'Nachir', onde se abasteceram de provisões alimentícias. Durante este repouso, Habib achou conveniente se livrar do companheiro, procurando convencê-lo, de que, indo os dois juntos ficaria muito difícil, de se ocultarem e disfarçar suas intenções, com muito custo, mas o outro acabou por aceitar a decisão, e voltou dali. Habib seguiu sozinho, mesmo porque seria mais fácil disfarçar-se e procurar um meio de descobrir a residência de Ahmad, chefe da tribo, sem ninguém esconfiar, e poder liquidá-lo. Procurou o caminho mais seguro, pela montanha de "Al'Daniê"; dormia durante o dia e viajava a noite até que chegasse à "Vila Saizuk". 
            Na manhã do dia 28 do mesmo mês, deparou com o cura da localidade, conhecido pelo nome de Youssef Sarkis, abrindo a porta da Igreja de Santo Elias para badalar o sino e dar início à cerimônia da Eucaristia [missa]. O padre estranhou o aparecimento dele ali naquele momento, mas cumprimentaram-se, entraram à Igreja, e foram para o confessionário a pedido de Habib, que queria se fazer conhecer pelo padre, com toda sua missão e o motivo dela. O padre procurou deixa-lo ciente do perigo que estava correndo de um lado, e da situação que ficariam os cristãos daquelas Vilas [Saizuk e Bkerzala] de outro; mesmo assim despediu-se dele, abençoando-o e recomendando que se livrasse dessa idéia antes que alguém o descobrisse e desvendasse sua missão. 
            Habib chegou exausto a Bkerzala, onde morava Ahmad Mohamad Beik, o indivíduo procurado. Aí perambulou disfarçadamente, por vezes, até se fazendo de bobo, trabalhou na colheita de trigo, amontoando também as palhas. Após duas semanas, Habib já havia descoberto a moradia do cujo, e a hora que subia para dormir; era um "Arzâl" [um cômodo construído ao relento, sobre três ou quatro árvores, com acesso por escada de obreiro], perto de um eito, vigiado por pessoas da tribo, que se revezavam. Não podendo entrar em ação diretamente, procurou se aproximar do local por meio de disfarce; fez-se de açougueiro na parte cristã do lugar, com o nome de "Gabriel Al'Dirâni". 
            Trabalhava no frigorífico do açougue, carregando carne no ombro, onde dormia também, ficou nesta lida até descobrir um jeito de subir ao Arzâl sem ser visto pelos vigias. Descobriu a hora exata que Ahmad se recolhia. Em uma noite de Sábado, dia cinco de Julho, Habib tirou a garrucha do esconderijo, perto do lugar de seu objetivo, decidido a dar início ao seu intento, qualquer que fosse o perigo, passou pelo seu amigo açougueiro e disse de pilheria: "Não abates nenhum boi hoje, porque eu vou matar um boi muito grande amanhã de manhã, não perca o seu tempo!" O açougueiro e os companheiros riram, tomando as palavras por gracejo, sem desconfiarem de nada. Habib seguiu seu roteiro, ocultando-se quando se fazia necessário, embaixo dos amontoados de palhas, ao passo que ia especulando o ambiente. 
            Após a meia-noite, dentro de um silêncio profundo, ele saiu de dentro da palha, pegou na garrucha e desenhou uma cruz no seu cano, foi se aproximando do Arzâl com muito cuidado até chegar a escada de acesso, e começou a galgá-la lentamente. Ao chegar, já no cômodo, não conseguiu saber qual era o homem, e qual a mulher, devido à escuridão; deu, então, um beliscão no bebê do casal, que dormia numa rede perto do leito; o bebê chora, causando os cuidados da mãe, a qual levantou, balançou a rede até a criança dormir de novo, e voltou a deitar, caindo logo no sono. Desta feita Habib certificou-se do lado que o esposo estava dormindo, ergueu-se lentamente, aproximou-se do leito e descarregou a garrucha no peito de Ahmad. A mulher acordou apavorada, os vigias correram desesperados e interrogativos; espalhou-se a confusão e o desespero na Vila de Bkerzala, donde o povo saiu em correria convergente para o local do terrível acontecimento. 
            Habib conseguiu no momento da confusão, mistura-se com a correria até se afastar da multidão, ficou então se ocultando e aguardando uma oportunidade de fugir do local. Começou a se escapar, se escondendo nos amontoados de palhas, nas moitas e entre os abrolhos secos nos rochedos circundantes, até que chegasse a Vila de Saizuk, aonde chegou de madrugada. O cansaço enfraquecia-lhe as pernas, além de já estar cheio de ferimentos e escoriações pelo rosto, pelas mãos, a direita queimada pelo detonar da garrucha e, ainda, com a roupa toda rasgada. Procurou a residência de um amigo que tinha conhecimento de seu compromisso; encontrou-o rezando o breviário perto da casa. Logo que o cumprimentou, ele perguntou-lhe, "Conseguiu o seu intento, Ó Bechirrâni? Habib respondeu, dizendo: "Consegui, sim, com a força de Santo Elias". O amigo convida-o a entrar ao seu cômodo particular, lavou-lhes os ferimentos com água benta, arranjou-lhe algumas roupas, e também alimentação, e aconselhou-o que desaparecesse o mais rápido possível, antes que alguém o reconhecesse e o denunciasse, correndo o perigo de ser preso. Habib concorde pôs-se logo a caminho de Vila Râs'Al'Âin, ao norte de Becharre, aonde chegou em uma segunda-feira, dia sete de julho de 1859, aos 40 dias de sua saída de Becharre. Ali encontraram-no alguns de seus parentes lavradores, os quais ficaram admirados com o seu aparecimento, porque já o tinham como morto a ponto de já estarem marcando o dia de seu réquiem. Daí seguiram com ele para Becharre, e ele foi narrando tudo que tinha lhe acontecido. Logo que chegaram ao seu humilde lar, começaram a badalar os sinos de todas as Igrejas, em sinal de alegria; o povo a detonar as armas num misto de contentamento e vitória. A parte de cima da cidade, tornou-se pequena devido a grande aglomeração do povo que ficou em confraternização até o Domingo do dia 13 do mesmo mês; os festejos de alegria, por motivo da vitória terminaram com a missa de réquiem pela alma de Marun Al'Gan, cujo assassinato fora o motivo dessa vingança. Este gesto de Habib Malkun tornou-se um exemplo proverbial até os dias atuais. 
            Na cidade de Akar e na Vila próxima a Bkerzala os muçulmanos foram à procura de todos os cristãos, parentes e amigos do assassinado, na desconfiança de serem cúmplices no caso, a vingança no chefe da tribo; atacaram-nos, matando, saqueando, roubando seus pertences, e praticando todo tipo de opressões insuportáveis, inclusive o rapto do padre Tuma Charrede, que faleceu no ano de 1907. O de seu irmão Boulos, que faleceu em 1917; também, enforcaram alguns dos habitantes cristãos no galho de uma oliveira de cabeça para baixo, exigindo que confessassem o que não tinham praticado, e proibindo a intervenção do clero. A essa altura do acontecimento, Gibrail Al'Dirani lembrou o que o praticante lhe dissera na véspera do acontecido, principalmente o fato dele ter desaparecido logo depois. Daí descobrirem que o estranho Becharrâni era o culpado. Com isso soltaram os dois padres e suspenderam as perseguições contra os cristãos da região. Espalhou-se a notícia por todos os cantos de Akar e vizinhanças com todas as minúcias e peripécias. Tornou-se difícil e preocupante para quem quisesse viajar ou migrar para algum lugar, para cristãos em geral e habitantes de Becharre em particular. 
Habib Malkun viveu após esse acontecimento até 1860, sofrendo de doenças, principalmente bronquite. Apesar de estar doente, foi um dos que lutaram ao lado de Youssef Beik Caram na direção de questões e guerrilhas contra os turcos, segundo o convênio cuja cópia está no histórico em manuscrito árabe. 
Acompanhou Beik Caram até as Montanhas do Líbano no ano 1861. Depois desta viagem, morreu no mesmo ano com o agravamento da bronquite asmática.

                 VI - Causas da imigração

             As posições de segurança e situação econômica sobre Bait Tawk começaram desde 1840. 
             O quadro geográfico em que a pessoa vivia impunha uma situação histórica, mas ao acontecer certos casos dentro deste mesmo espaço, obrigando o indivíduo a imigrar para outro lugar onde pudesse tirar sustento, e progredir no trabalho com abundancia. Situação como esta dificultava completamente a vida na montanha de Becharre, que ficava coberta de neve durante cinco meses no ano, tornando a luta pela vida impossível nesse período e, ainda, ocasionando problemas mais sérios. A zona central, que o lavrador procurava por causa da fertilidade da terra para melhor colheita de produtos, mas por outro lado vinham os impostos territoriais, de plantação e de criação de rebanhos, que ficava com a parte maior do lucro. 
            As poucas pastagens nas quebradas das montanhas e dos despenhadeiros serviam para a criação de rebanhos caprino e ovelhum, principal fonte de sustento da população; também eram raros os bosques e matas donde extrair madeira para fabricar carvão e fazer lenha, o que era de muita utilidade e necessários naquele tempo, principalmente no inverno. 
            Naquela região, devido a sua distância do mar por um lado, e a dificuldade de chegar a ela por outro, quase não houve progresso, ou foi muito lento, dificultando o desenvolvimento comercial, e o turismo, pois a natureza ali oferece vistas maravilhosas. Mesmo o comércio interno era insuficiente para o fornecimento de artigos e víveres para o consumo cotidiano, somado a péssima situação econômica. Por esse e outros motivos, os habitantes da montanha desciam para o litoral para passar a difícil estação do Inverno. Porém após os numerosos acontecimentos familiais por diversos motivos, e a revolta que aconteceu no começo de 1840, permanecendo até 1860; daí poder-se imaginar o sofrimento do povo, e levar em consideração, juntamente com esses fatos, a vingança praticada por Habib Malkun em Ãkar em 1859 como já foi mencionado, o qual também tomou parte na comissão vitoriosa, que se encarregou de acompanhar o grande defensor popular, Youssef Beik Caram para a Montanha em 1851, cuja luta foi devido à perseguição dos Otomanos contra a comunidade Maronita na montanha, principalmente Becharre e Ehden. Foi um justificado protesto contra o desmando e abuso de autoridade por parte do governo do Sultão: desrespeito à liberdade; complicação política em geral; inflação na economia, deixando o povo em dificuldade de tudo que serve de apoio à sobrevivência. Daí surgir o propósito dos habitantes da Montanha, principalmente os habitantes de Becharre e, entre eles, Bait Tawk, para a emigração.

                   A primeira imigração:

            Muitos de Bait Tawk como outros Maronitas, fugindo da opressão, da dificuldade de vida, da necessidade em geral, desciam da Montanha, individualmente ou em grupos, para os portos nas cidades litorâneas, à procura de navios que os levassem para outros países, como fizeram os imigrantes primitivos, sem saberem de seus destinos, passando meses a fio na imensidão dos oceanos depois de atravessarem o Mediterrâneo. Terminando essa aventura com o desembarque em algum continente que o navio estivesse destinado. E assim, se entregavam à luta, confiantes na força da coragem, da ousadia e da aventura, e ainda, com a disposição de vencer no futuro; sem considerar a estranheza de outras terras, a complicação de novas línguas, e diferença de clima. Deste modo chegaram à África do Sul onde trabalharam, aí muitos progrediram a ponto de enriquecer. Viveram felizes e satisfeitos, mas nunca esquecendo o solo pátrio e seus parentes, principalmente durante a Primeira Guerra Mundial de 1914. Outros foram para a América do Sul, chegando ao Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, e outros países do mesmo Continente, onde os seus descendentes se misturaram com os habitantes, tornando-se compatriotas em todas as profissões governamentais e liberais; muitos entre eles adquiriram riquezas e deram instruções aos filhos, que se formaram em Direito, Medicina, Engenharia, e outras profissões, facilitando-lhes o ingresso em repartições e cargos públicos; na política e em altas posições governamentais, valorizando e promovendo respeito à colônia Libanesa. Assim foi também na América do Norte, principalmente em Nova York e Boston; também no México e no Canadá. 
            Após a Independência do Líbano em 1943, apesar do progresso destes países e de pertencerem ao Primeiro Mundo, os libaneses passaram a dar preferência à Austrália para suas imigrações, um país recente, mas também em franco progresso, e de boa administração e organização no governo, onde a facilidade de emprego e condições de vida supera a de outros países. 
            Eu visitei este País em Julho de 1985 [diz o autor do livro]; aí encontrei o povo de Becharre, principalmente de Bait Tawk já muito bem familiarizados com os costumes locais, e enfronhados no meio social, mencionado em Revistas econômicas, Políticas e Sociais; fazendo parte em diversos Clubes e, por vezes fundando os seus próprios de língua árabe, onde dançam e cantam, relembrando sempre os costumes e tradições da terra natal; e criando escolas para o ensino dos filhos na língua pátria. É evidente que os libaneses aqui radicados não se esquecem da pátria e dos parentes no Líbano, aonde vão sempre em visitas, chega até haver quase uma ligação aérea entre a Austrália e o Líbano. Aqui, quase todos os imigrantes são empregados em fabricas, e quando trabalham por conta própria, são estabelecimentos comerciais simples de varejo. Mesmo assim há alguns capitalistas. A posição política, e econômica da colônia permite-lhes ajudar os parentes e familiares no Líbano, o que mais fizeram durante a última guerra lá de 1975-1990, e conseguiram afastar a necessidade e a miséria de um grande número de famílias; também ajudaram na formação de sociedades caritativas para a ajuda e assistência às famílias carentes. As cidades da Austrália mais procuradas são: Sidney, Melbourne, Bresbem e Camberra. É importante lembrar, que entre esses imigrantes muitos perderam o contato com seus familiares no Líbano, conforme nos mostra a Árvore Genealógica.

                Segundo, a migração temporária:

             A migração temporária de Bait Tawk para Ãkar iniciou-se em 1859, como já foi dito, e terminou com no fim da Primeira Guerra Mundial, e o começo da Delegação francesa no Líbano. Porém no princípio do século XX, em uma missiva do padre Suleiman Sarkis ao Patriarca Huaik em 12 de dezembro de 1926, na qual ele pede o fim da opressão, e a implicação contra dois indivíduos de Bait Tawk, que passavam o Inverno no Litoral, como faziam todos da Igreja da Virgem em Becharre; também na localidade de Bajeã, próxima a Saissuk, aconteceu com os filhos de Michael Sumsam e Boutros Aishana; e em Marãk Kashu, perto de Vila Darrar, com os filhos de Youssef e Elias Al'Kassis; e, ainda, o lugarejo Al'Kuleiat, perto de Bazâl. Mas as migrações para Al'Zaiuat não foram suspensas e houve assaltos, roubos e seduções; é um lugar perto de Becharre com muitos habitantes Maronitas o que facilita esses abuso, daí terem que se proteger. 
            Nessas migrações, os filhos Hanna Mahfuz; os folhos de Lahud Jabur Gibrail; os filhos de Youssef Rumenos Abud foram para Vila Karakir e Hamis; os filhos de Latuf Ben Youssef Abud foram para Misiara. As Vilas de Zãzea, Baskhara, Salharat e Deir Nabuh foram procuradas por muitos de Bait Tawk. Os descendentes desses habitantes ainda possuem propriedades com grandes olivais até hoje. Para Al'Kura quase não ia ninguém naquela ocasião, devido ao excesso de habitantes e pouca pastagem para o rebanho e, também, por causa da fiscalização rigorosa com impostos exorbitantes. 
            Atualmente os membros de Bait Tawk possuem a metade das terras de Vila Bsarma; de Naher Abi Ali, Han Bziza e Metrit. Alguns deles passaram a morar definitivamente nos lugares, outros só para passar o Inverno. 
            Por causa do mesmo motivo {a insegurança}, todas as famílias de Bait Tawk, para essa migrações temporária procuravam Al'Bukã com limite na parte Oriental do Monte Makmel com diversos acessos naturais para Becharre, começando pela Vila Iamunê até o Hermel, pela baixada e pela serra. Tannus Antun e Tannus Mussi com os filhos foram para Vila Suissra e Brissa e se estabeleceram com propriedades nas duas Vilas. Em 1945 os filhos de Tannus Mussi voltaram definitivamente para Becharre, após terem vendido suas propriedades para pessoas da família Chãia, os quais passaram a implicar com os filhos de Tannus Antun, que influenciaram os outros a mudarem para Becharre em 1948. Os filhos de Boutros Selem, os filhos de Hanna Nasser Ben Youssef Ben Tawk, os filhos de Gerges Mansur Latuf, os filhos de Mansur Tannus Mussi foram para Marjhin e Wedi Ratel. Após a residência de cem anos nas duas Vilas, voltaram para becharre no inicio de 1950, deixando suas propriedades aos cuidados dos lavradores da família Shãia, para cultivarem as terras como meeiros. Porém, após a briga em 1958 resolveram vender tudo gradativamente. Com a guerra de 1975 apagaram-se todos os sinais de sua presença naquela Vila.

                       Terceiro:

            Na mesma ocasião, todos da família de Tannus Ben Gerges Ben Al'Huri Bechara, com os Filhos; Youssef Ben Lahud Ben Gebrail com seus irmãos, Massaud e Rmaihe e Al'Assi com os Filhos e Boutros Ben Hanna Ben Nasser e Massaud Ben Latuf Ben Youssef Abud com os filhos e Rendi Beshir com os filhos, foram morar no Harfuch, que fica entre Nabha e Harbta, compraram terras das pessoas do lugar, melhoraram as casas e ficaram residindo lá até 1961, o que esclareceremos mais adiante. Merãb Ben Youssef Abud Merãb com os filhos, foram para Vila Barka e dali para Ãineta; seus descendentes continuam morando lá até hoje, conhecidos por "Merãb Abud Tawk". E Abdala conhecido por "Abi Shaiban" foi para Assi, perto de Berkã. Muitos deles vão lá, só no Inverno, e passam o Verão em Maksam, onde fez uma grande plantação de macieiras, cerejeiras e videiras. Al'Zain Ben Tannus Ben Abdel'Ahad com os filhos, Tannus, Wrdan e Mansur; E os filhos de Latuf Ben Youssef Abud, foram para Nabha e Harfuch, todos eles procuraram "Ãiun Ãrgush" e "Darrer Al'Hara" para passar o Verão. 

   VII - História de Wardan Al'Zine e seu irmão Mansur (*)

            O domínio dos Becharranes em geral e de Bait Tawk em particular, das fontes e terras cultivadas na parte Oriental do Monte Makmal, junto ao qual se adicionava amplas pastagens, entre suas habitações nas proximidades das planícies litorâneas e Becharre, que lhes oferecia uma defesa natural significante, e um apoio militar, quando necessário. Os Xiitas perceberam as vantagens desta região para a economia e se interessaram em habitá-la, e dali tirar sustento. Começaram aí as complicações, das quais surgem muitos acontecimentos desagradáveis, por vezes com os habitantes, e outras com as autoridades Otomanas. Dentro deste quadro surgiram diversas brigas e desavenças entre estes Mateule e Bait Tawk, e geralmente com todos os habitantes de Becharre; muitas vezes terminava sem grandes conseqüências e sem envolver toda a população, por outras envolviam as massas de ambas as partes em brigas ferrenhas. Dentre essas complicações repletas de discordâncias e brigas, sempre motivadas por roubos e assaltos por parte dos Mateules, aconteceu uma inesquecível no Inverno de 1914, entre Wardan Ben Al'Zine Ben Tanus Ben Abd Al'Ahad Tawk, habitante de "Nabha", e Suleimam Ahmad Amrez, chefe da Cabila Amrez, muito conhecida na região mencionada, Wardan levou vantagem na briga armada e franca. 
            Esses ataques e assaltos aconteciam sob a chefia de Rachid Sultanat Dandesh, das montanhas de Hermel, ponto onde se juntavam para realizar esses desmandos de bandalheira: ataque e fuga, que começou em luta contra o exército Otomano, e se estendeu ao saque dos pertences e roubo dos rebanhos dos habitantes da região. Dentro desses acontecimentos, Suleiman, o cujo citado, prontificou-se a fazer uma afronta para se vingar de Bait Tawk e, principalmente de Wardan. Dirigiu-se então com os seus seguidores às pastagens pertencentes à Vila de Nabha para roubar o rebanho, causa de brigas entre as duas partes.
            Este embate começou sob o comando do chefe dos Mateules, que dava firme apoio à turma para esses assaltos e saques aos vizinhos dos arredores. Isso aconteceu na Primavera do mesmo ano, quando resolveram roubar os rebanhos pertencentes às famílias de Bait Tawk, que apascentavam os rebanhos no caminho entre "Harfuch" e "Ãiun Ôrgush", com vigias cuidando da segurança naquele trecho; tendo conhecimento e preocupados com este fato, alguns do Clã simularam um assalto ao rebanho dos Dandesh antecipando a defesa. A esta altura apareceram os conciliadores, que devolveram os rebanhos de Bait Tawk, e os Dandesh ficando com os deles. Apesar da conciliação, permaneceu o ódio e o desejo de vingança no coração dos Dandesh contra Wardan; era o desejo de Ahmad Suleiman Amrraz de um lado e o domínio completo da região do outro. No dia 17 de Setembro do mesmo ano, Wardan juntamente com seu primo Boutros Abu Shaiban estavam apascentando o rebanho em "Darrer Al'Acrã", entre "Ãiun Ôrgush" e "Jabab Alk'Hamar", quando foram atacados por 18 indivíduos, bem armados, da turma de Mohamad, mandados por Dandesh, começou então um intenso tiroteio entre as partes, durando sete horas. Diante da disposição de defesa por parte de Wardan e seu primo, e de rechaçar os assaltantes, o que estavam conseguindo, a turma fugiu em debandada antes do anoitecer, ficando um só indivíduo, Youssef Sultanat Dandesh, irmão do chefe da tribo, Rachid Sultanat, que ficou oculto em uma moita no meio de um rochedo, junto a um cedro, com o intuito de tocaiar e matar Wardan, este com o primo, após observar toda a redondeza, no momento de recolherem-se ao abrigo, justamente quando o tocaieiro dispara um tiro que atingiu Wardan na virilha, deixando-o morto, e fugiu. A notícia do crime chegou logo a Becharre e espalhou-se por toda a cidade; juntaram-se os irmãos, parentes e amigos, para providenciarem a vingança por uma pessoa tão bem quista na região e, também, garantirem a segurança dos pastores e lavradores de um lado, posição dos Maronitas e todos os demais cristãos de outro. 
            Mansur Al'Zine e alguns parentes iniciaram a busca do criminoso e sua turma para entrega-los à justiça, mas o mal tempo e a forte nevasca impediram-nos de prosseguir na busca, obrigando-os a aguardar a melhora do tempo atmosférico. Nesse ínterim o Becharrâni Hanna Beik Al'Darrer, que era comandante de uma ala do exercito Otomano na região de "Dair Al'Ahmar" e vizinhanças, deu busca ao criminoso, perseguindo-o em todas as cavernas e demais esconderijos, a favor da vingança de Mansur e seus parentes. 
            Encontraram Saadala Beik Hamade, chefe Xiita, em Hermel e vizinhanças, mas este por sua vez, procurou a proteção de Nakhle Bacha, Bispo da cidade de Baalbek e arredores, com muito poder e influência, este procurou o representante do Líbano, Aurranes Bacha, perante o Sultão; foi pedido então que suspendessem as busca da Companhia Otomana contra os fugitivos, para que pudessem entrar em entendimento de paz com Bait Tawk. Para desatarem o nó da questão, o chefe dos Xiitas procurou o Patriarca Maronita, Elias Al'Huaik, o qual lhe deu uma carta de recomendação dirigida à família Tawk, pedindo perdão e um aceite de reconciliação. Em 7 de junho de 1915, chegaram a Becharre os responsáveis e cúmplices do criminoso, acompanhados de Saadala Hamade e chefiados por Rachid Sultanat, acobertados com a missiva do Patriarca. Entraram à casa de Mansur Al'Zine com lenços vermelhos em volta dos pescoços, pedindo perdão e desculpas, muito humildemente. Na presença de um grande grupo de Becharre, Mansur Al'Zine concedeu o perdão aos Xiitas {conhecidos por Mateule, principais responsáveis pelo crime, e ofereceu a cada um deles uma capa de lã [Ãbat], sinal de perdão e não quis aceitar nenhuma recompensa, dizendo: "Honra e dinheiro não se combinam; fico somente com a honra". Essa reprimenda e o gesto elegante de Mansur Al'Zine ficou como um exemplo proverbial em toda a região. Resultou daí uma convivência de paz e harmonia entre as partes, passando a haver respeito e entendimento entre eles, principalmente a Bait Tawk em seu reduto, "Baalbek e Hermel". No livro da Árvore Genealógica está registrado um convênio manuscrito de Mansur Al'Zine, sobre o perdão e a reconciliação com os Mateules. E um outro documente sobre sua memória, onde está a data de seu nascimento e morte [1867-1936]. Este documento registrou o réquiem após 40 dias da morte dele, celebrado pelo Patriarca Antun Arida, seu conterrâneo da cidade de Becharre. 
            Segundo Hanna Wardan Al'Zine Tawk, com 85 anos de idade, seu tio Mansur morreu dia sete de fevereiro de 1936, e que ele assistiu a cerimônia religiosa em 19 de março do mesmo ano, era dia se São José, e esclareceu: "Este documento e o anterior encontrei-os na posse de Mansur Michail Al'Zine Tawk, parente do meu tio".

        VIII - História sobre a localidade de Harfuch

            No quadro histórico atual, pacificou-se as desavenças familiais no Monte Líbano com o fim dos príncipes Charrabis e a partida do Emir Bechir III para Istambul em janeiro de 1842; e uma desordem militar veio de encontro a um desequilíbrio de crise na política. Surge, então, o desentendimento entre as famílias, que resultou na briga dos maronitas com os druzos. Aí o Império Otomano, em 1º de janeiro de 1843, resolveu dividir o Líbano em duas Komukâmias {uma espécie de delegacia}, uma no Sul para os druzos e outra, no Norte para os cristãos, separadas pela auto-estrada Beirute-Damasco. Este arranjo não desembaraçou a questão, foi como passar bálsamo numa ferida purulenta, e que se agravou até 1860, passando para a resolução do governo em 9 de junho de 1861. 
            Na ocasião desses acontecimentos, o Bocaã não pertencia ao Monte Líbano, mas mesmo assim não se livrou das brigas raciais, e das rixas familiais. Eram brigas e lutas sérias, como o ataque dos druzos à cidade de Zakhle, totalmente maronita, assaltando-a e saqueando-a, e terminando em incendiá-la, conseguindo vitória traiçoeira; e refugiaram-se dentro do Líbano. As fortes disputas internas na tribo Xiita, que censuravam a falta de um governo forte, circulava com influência política ligada aos chefes dessa tribo, conseguiram, deste modo, juntar a planície do Bocaã, que pertencia à Síria, ao Monte Líbano, limitando-se com Damasco. Apesar dessa decisão, o governo do Líbano ficou aguardando o término da Primeira Guerra Mundial. Porém os habitantes do Líbano não desistiam de pressionar o novo governo pela permanência da planície do Bocaã para o Líbano, que é uma fonte de produção e provisão de subsistência para eles. 
            Depois da formação do Grande Líbano, por ocasião da conferência de paz, realizada em Paris, em 25 de outubro de 1919, a qual se realizou para soluções limítrofes de estados e cidades, inclusive o Bocaã neste novo Estado, após o Líbano ser entregue ao Protetorado francês em 24 de agosto de 1920, a população da planície de Al'Bocã fora dividida em duas partes: uma parte para comportar a maioria dos cristãos, que ficaram agradecidos; a outra parte para muçulmanos, que recusavam a lei do Monte Líbano e optavam pela Syria. A correspondência de petições carregava as assinaturas de autoridades civis e religiosas, com declarações contra a Delegação francesa, que apoiava este projeto legislativo. Em vista das assinaturas dessas pessoas da sociedade, que não aceitavam assinaturas sob orientação de uma só pessoa, como, também, a ligação a um partido político dividido, devido à prepotência sobre divisões territoriais. A desavença entre eles tomou o aspecto de grupos oponentes sob o comando do chefe da comunidade, chegando a uma luta sangrenta entre parentes e pessoas da vizinhança, crescendo a confusão sem nenhuma estratégia unitária e nenhum interesse particular, jogando toda a planície num anarquismo sem limite, principalmente o setor de "Hermel" e seus arredores. 
            Lembramos desses acontecimentos mais por motivo de exemplo e não como restrição. Pois a gangue composta de Melhem Kassem Al'massri, com a alcunha de Abi Ali, em Hart'ala e Brital; Ali Faraj Altafaile, na parte oriental de Baalbek, contando com 20 pessoas, acabaram por serem reconhecidos pelo exército francês, e criando inimizade com todos os cristãos que apoiassem a França ou optassem pela separação da Syria. A gangue de Hussan Táan Dandesh, o mais velho da tribo, contava com 70 homens, habitando às vezes, as Montanhas do Hermel para suas atividades e, outras vezes, a cidade de Nabha e Arzâl, ao lado oriental do Monte Líbano; os motivos deles eram ataque ao exército e execução de soldados franceses, opondo-se à sua estadia em "Haman'ra". Apesar da amizade dos Dandesh com Bait Tawk, e a não existência de ataques por parte de Hussan Táan e seus irmãos, a gangue continuava atacando e prejudicando os cristãos, e obrigando-os a pagar pedágio, exceto os de Becharre, exigindo deles ainda parte de suas produções e de seus pertences. Não fosse a observação do Exército francês e um tratado de não agressão, o destino deles seria a morte ou a fuga da região. Contudo o Exército francês não deixou de perseguir essas gangues, prendendo os que agarrassem da turma; outros fugiam para os cumes das montanhas; recolhia, também, suas armas, que facilmente chegavam às mãos dos malfeitores. 
            A vantagem dessas buscas foi acabar com os ataques e assaltos por parte das gangues de um lado, e resolver a posse do Bocã do outro, que ficou pertencendo ao grande Líbano. Cresceu muito o desentendimento e o fanatismo entre as famílias, principalmente em questões religiosas. Também o roubo, o que não comentaremos aqui, pois falaremos mais da necessidade de terras cultiváveis para os cristãos; mesmo porque as propriedades e as plantações dos cristãos são muito prejudicadas por parte dos Mateules, às vezes individualmente, outras vezes em grupos, sem falarmos dos tempos em que isso, muitas vezes, resultou em mudanças e emigrações, limitando-se as famílias cristãs que permanecessem no local a procurarem por terras mais amplas para se estabelecerem e fazerem suas lavouras. Daí a posição dos Maronitas, principalmente os que saíram de Becharre, das poucas terras na montanha, de pouca fertilidade, desde a parte oriental até as bordas do ocidente; para sua segurança, evitavam estender-se demais pelas planícies litorâneas, apesar de estarem necessitando de boas e amplas terras para suas lavouras. Por ocasião da Delegação francesa, alguns desses migrantes, aproveitando a situação mais calma, começaram a aumentar o número de habitantes, mas sob observações da autoridade. Esta aglomeração na região ocorria algumas vezes e, quando ocorria algum movimento contrário, retornavam à última forma. 
            Aconteceu, então, a independência do Líbano em 22 de novembro de 1943, seguindo também um movimento político contra os franceses com a complacência dos cristãos em geral, e maronitas em particular. Os sunitas e xiitas protestaram com manifestações em Tripolis, Saída, Baalbek, pedindo o retorno renovado para o domínio Sírio, afastando-se definitivamente do Líbano, com ataques a construções civis e militares da nação. 
            Apesar dos esforços das autoridades, civis e religiosas, para a união em torno da Independência, e mesmo o entendimento entre as famílias cristãs e tribos muçulmanas para que passassem a viver sob um determinado sentimento de paz e concódia, unidos no mesmo patriotismo, principalmente no Bocã e no Hermel e arredores, promovendo um comportamento de harmonia entre civis e religiosos das diversas crenças; qualquer governo pode crescer dentro de um modelo de organização exemplar, mas o que se notava é que era difícil a convivência entre cristãos e muçulmanos, senão aparentemente; por isso qualquer desavença entre as partes, principalmente entre maronitas e xiitas, até que houvesse uma reconciliação entre as partes, na seguinte ordem: "Reconcilia-se com seu irmão seja ele opressor ou oprimido". 
            Deste modo aconteceu uma contenda no mês de setembro de 1949 entre um indivíduo da família Atrash na proximidade de Becharre, com propriedade na Vila de "Tel Surga" e outro da tribo Xiita, morador da mesma Vila, desenvolvendo para as famílias, daí toda a tribo Xiita e os Cristãos, levando os Atrash a lutarem para defenderem sua propriedade no local. Para acabar com a briga, foi preciso a intervenção do exército Libanês com todo seu efetivo, que retirou os Atrash de suas residências, levando-os para a região de Dair Al'Ahmar, entre os Maronitas, e para Becharre, largando tudo que possuíam a mercê da pilhagem. Apesar da tentativa de reconciliação, em 1950, sob a orientação do exército Libanês, do patriarcado e dos chefes de tribos, e ainda o povo de Becharre, mesmo já entregue os envolvidos a justiça, para dar a cada um o seu direito; mas não ficou seguro que os Atrash recuperassem suas propriedades e nem voltassem para a Vila citada. 
            Na ocasião aconteceu a revolta de 1958, que é do conhecimento de todos: o ataque, o objetivo, a conseqüência, tanto por parte do exército quanto de grupos das gangues, além de outros crimes. No Inverno do mesmo ano, aconteceu uma desavença entre a família Jaaja, que morava na Vila "Al'Kadam" entre Bôrcã e Nabha, e a família Nun, da tribo Meteula, residente em "Rami" e arredores com lavouras. O assassino de um indivíduo da família Jaãja fugiu; porém os intelectuais Mateules e Maronitas interferiram na questão, mas não conseguiram resolver nada. Aqueles apressaram para uma conciliação, procurando cortar as arestas da questão antes do envolvimento do Estado, piorando a situação.

                    IX - O Incidente na Vila Harfuch

            Terminou a revolução de 1958 com o proverbial sentimento: "Nem Vencedor, nem Vencido". A região ficou aparentemente deserta, sem habitantes. A comunidade de Hermel procurou armar-se e, com o apoio dos Mateules, se prontificaram para revolução, principalmente a tribo Amrraz, com a ajuda de um forte partido da Síria, não obstante alguns desses estarem apoiando o Presidente Camil Chamaun. Porém o pessoal de Bait Tawk, que habitava a região do Harfuch, cresceu em número e se armou, como os outros, para enfrentar essa revolução, e ficaram de lado, aguardando o desenrolar do movimento, com o simples propósito de defender os Maronitas ali perto dos mateules, procurando evitar que acontecesse com os Maronitas o que aconteceu aos Atrach na Vila Surga, sem a força de Becharre como apoio. Além do pessoal de Becharre estar crescendo e bem armados, estavam também comprando amplas terras e se expandindo para o litoral, o que atemorizou os Mateules, os quais começaram também a se fortalecer para continuar com seus ataques e assaltos. Porém esses acontecimentos foram simples em comparação ao que aconteceu com Bait Tawk em Halba, causando a revolução que durou de 1958 a 1961. A ousadia dos Amrraz de proibir a passagem de Bait Tawk em Nabha, sua cidade, foi um atrevimento tão grande que muitos acharam isso uma humilhação. Mas também eram contra Bait Tawk no caso do alargamento do caminho de chão para uma estrada asfaltada ligando Harfuch a Nabha, também por automóvel. Os Amrraz insistiam que as terras devolutas que ligam o Harfuch a Ãiun Ôrgush pertencem a Nabha, e que não é direito dos habitantes do Harfuch se estabelecerem ali, e ainda tentavam proibir a irrigação de suas plantações em Ãiun Ôrgush, alegando que essas fontes eram para a irrigação em Nabha unicamente. Com todas essas implicações ainda praticavam assaltos e roubos dos rebanhos de Bait Tawk, mas estes agiam sempre, defendendo os seus direitos com vitórias e sentimento de honra de um lado, e aguardando o que pudesse acontecer de outro lado. Enfrentavam, como enfrentam ainda, toda provocação com determinação e coragem, mas sempre com as mesmas medidas dos oponentes, nunca abusavam nem se arrogavam de valentões, porém, às vezes, o despeito dos mateules com eles era tão grande, e a conexão de muitos acontecimentos dessas implicações, que causavam a emigração de muitos da localidade. No Inverno de 1961, os Amrraz e outros grupos dos arredores de Nabha, juntaram-se para defender aquela região, chegando ao exagero de proibir o trânsito de pessoas de Bait Tawk por lá, usando até mesmo violência pelos vigias, colocados com este propósito contra todos de Bait Tawk que moravam em Nabha. 
            Em 28 de junho do mesmo ano, dois irmãos, pastores da família Tawk, levando parte de seu rebanho de Jabail para Harfuch, para passar o fim da Primavera, ao chegarem à região mencionada, sem saberem o que haviam lhes preparado os Amrraz, foram surpreendidos com a exigência de pagarem o pedágio, querendo ainda além de dinheiro parte do rebanho, senão teriam que voltar donde vieram. Estavam sozinhos e nada puderam fazer a não ser cumprirem a exigência completa: único dinheiro que tinham e dois elementos do rebanho. Isso aconteceu com Mãauad Hanna Mãauad Tawk e seu irmão, com 62 anos, nunca se esqueceram deste caso, após menos de um km de distância, surpreenderam-nos outra vez, exigindo outro pagamento com aumento. 
            Um deles segurou o pastor, mas este o jogou ao chão e seu irmão deu-lhe uma cacetada na cabeça e puxou da espingarda, pulando para o abrigo de um rochedo, e começou a atirar neles. Ficaram amedrontados e fugiram para Nabha, onde pediram socorro aos parentes, dizendo, que um grupo de Bait Tawk atacaram-nos e roubaram suas armas. Enfurecidos por esta farsa, os Amrraz atacaram o pessoal de Harfuch e mataram Bulos Habib Hanna Tawk, o qual aguardava a melhora da mulher que havia dado à luz uma criança na noite anterior, para leva-la a Ãiun Ôrgush. Chamaram-no de dentro de casa e foram logo descarregando a arma em cima dele; fugiram alarmados com o exagero do crime, pois a vítima nem sabia do que se tratava. Espalhou-se a notícia por toda a região, desde Ãiun Ôrgush até o centro de Becharre, com o pavor que se apoderou de homens e mulheres na região do Harfuch. Com isso a região ficou deserta, logo chegou uma ala do exército para incendiar e arrasar Nabha. Juntaram grupos de Bait Tawk com os de Becharre e do Bocã, armados e começando pelo Harfuch foram subindo pela zona deserta das montanhas, lugar da desavença, terminando na Vila Burcã. Perante essa mobilização, os Amrraz recuaram, abandonando a Vila e procurando proteção com outros da tribo. 
            Os chefes dos Mateules se reuniram, frente aos acontecimentos que os amedrontavam, pois em poucas horas, o pessoal de Becharre estaria invadindo Nabha; esta era a questão: o ataque e o incêndio à cidade se transformariam em uma guerra civil, envolvendo todo o Estado. E não deu outra, às nove horas da manhã do terceiro dia, 29 de junho de 1961, apareceram dois aviões Hookh Unter da aeronáutica libanesa, sobre as montanhas de Becharre, em baixa altura, dirigindo-se para a guarnição do exército em Riak, voltando em seguida para a região mencionada, começaram a lançar bombas e metralharem toda a área, jogando também bombas incendiárias; em poucas horas tudo em volta ficou queimado e arrasado. Morreram: Hanna Tanus Habib Hanna, Hanna Melhem Mansur Hanna, Rihal Tanus Licha Hadichite, com mais de cinqüenta feridos. Não fosse muitos terem se entrincheirado nas cavernas e outros fugido para lugares seguros a mortandade seria muito maior; importante foi suspenderem logo o bombardeio e os soldados se recolherem ao quartel. 
            A família Bait Tawk desistiu de voltar àquela região devido à pressão do Estado contra eles, em todos os sentidos, quando ao invés de perseguição, o dever do Estado é proteção e segurança aos seus habitantes; e, além disso, a desavença com os Mateules aumentou, de certo modo, as implicações dessa situação, com brigas das diversas tribos contra os cristãos da região, ao passo que, o Estado em sua responsabilidade, deixava de dar apoio à cidade de Becharre. Os habitantes de Becharre se agruparam, em protestos contra as autoridades do Estado, sem contar com os deputados da cidade: Habib Kairuz, Said Tawk e Mershed Habshi, que se descuidaram de muitas questões de importância, referentes às diversas províncias com a responsabilidade da Câmara dos deputados. Então o Presidente da Republica, Fuad Sharrab; o Presidente da Câmara, Sabre Hamade; o Chefe de Polícia, Sáeb Salame e o Comandante do Exercito, Âedel Sharrab se reuniram com os deputados de Becharre, o Patriarca Maronita e mais alguns membros maronitas de importância, formando uma comissão, sob a direção do Bispo de Tripolis para um encontro com a comissão consulente de Becharre, a fim de resolverem a situação da província, evitando assim o problema complicado entre as famílias, que carecem da proteção do Estado. Porém em 1961 com a intervenção do Presidente da Republica, Fuad Sharrab, pessoalmente, foi possível acalmar os ânimos e devolver a paz à província.
            Quanto à tribo Amrraz, houve um envolvimento com os chefes das tribos do Bocã, ocidental e oriental, entre Xiitas e Sunitas, terminando em se formar uma comissão apaziguadora em Râs Al'Ãin, perto de Baalbek, também com o intuito de descobrir o motivo da desavença, o que não passava de saques e roubos {gaziva}. Contudo tentaram a conciliação entre as tribos em questão. Mas a persistência de Bait Tawk em não aceitar, por descrença no cumprimento, pois essas tribos sempre retornavam aos seus hábitos, apesar dos convênios combinados. Tanto que chegaram a formar uma comissão com trinta chefes de tribos: Sabhi Jaafar Táan Dandesh, Suleiman Chames, Abdala Aluh, Jaafar Charaf Al'din, Muhamad Dáas Fáiter, Muhamad Hassin Chames, Ali Mustafá Nasser Al'din, Muhama Harb, Mahmud Rashid Dandesh, Muhamad Abass Iagui, prefeito de Baalbek, Hamu Uaish, Ali Neif Rabah, Abdo Al'karim Fiad, Ahmad Hamad Hamid, Ali Yuossef Talis, Chalam Aued, Atman Al'Rafai, Rami Haidar, Khader Al'Sulh, Rada Raad, Saadala Al'Muhdad, Abdala Iasbek, Muhamad Al'Iachfufi, Marraj Al'Jamal, Iassin Aabas Jaafar, Abdo Hussen, Asad Al'Zine, Muhamad Youssef Al'Muhtad, Al'Xeik Nif Zagaib, Sabhi Asad Subhi, Sabhi Khalil Hussein, Suleiman Al'Sublaine, Asaad Aued Alsalman, Mereshed Alhaj Hussen, Ajaaj Jaafar Shams, Sbhi Kanaan, Mahmud Melhem Assaf, da cidade de Garsal; Muhamad Hussen Algiri, Muhamad Karmadi e Humess Faliti. 
            Durante a estação de Outono e Inverno do ano de 1962, ainda se esforçavam pela conciliação, mas sem efeito. Em meados da Primavera do mesmo ano, um grupo armado de Bait Tawk matou dois indivíduos da tribo Amrraz, perto de Nabha e feriu outros três, por vingança do assassinato de Youssef Tari Ramaihe Tawk, que fora morto por eles, na mesma ocasião que os Amrraz tomaram conhecimento deste caso. Bait Tawk, então, praticara a vingança por seus mortos e feridos, mantendo em si uma questão de honra. Deste modo, desistiram de perseguir os Amrraz, e passaram a viver durante certo tempo, apenas com cuidados e precaução do que pudesse acontecer com as tribos em geral, e a família Amrraz em particular. Em 1963, então, voltaram a se reunir para uma reconciliação em geral, o que aconteceu com duas assembléias: a primeira num Domingo, dia 12 de maio de 1963, em Nabha, onde os Amrraz aguardavam os comissionados, inclusive os principais de Bait Tawk; a segunda, no Domingo seguinte, dia 19 do mesmo mês, sob o emblema: "Manifestação de Gala Pela Unidade Nacional em Becharre".